quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Ao poeta


(foto Google Search)

Punhetavam-lhe ideias
feito putas de beira de estrada

baratas, temerárias causadoras
de riscos irreversíveis

metia o verso, nem sempre
primando pela criação preventiva

disseminando erupções insanas
abusando de locuções profanas
fruto de verve invasiva

calcava o bruto e roliço
jogo de traços e rimas
feito procriador compulsório
que recebia soldo irrisório

ao copular poesia

ainda assim
se achava por isso bem pago
dando pro fumo, pro trago

já era o que lhe valia.


Malu Sant'Anna

Quero ser

(Foto Ben Goossens)


aliciar
o mais, rupturas
amor e ódio
onde se completam

voraz
esfinge que se cala
teu nome
é um rancor

frenético
lisérgico, intrépido


que na mesa
de um domingo
em família

não é mais filha
do que qualquer

outra
lascíva larissa

cria da dor
com escárnio

soberbo
brutal


poesia


Malu Sant'Anna

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Vão


(Foto José Ferreira)


meus riscos desfilam
nas bordas
do oco do mundo

onde meus pés flutuam

sem medo
nem culpa
nem zelo

avesso

em flerte
com o vazio

afundo

Malu Sant'Anna

quinta-feira, 1 de abril de 2010

À sentinela insana


(Foto F. Luis)


Deixa estar
que qualquer dia...

ah, um dia desses qualquer

quando ninguém mais
esperar o respiro fundo
do mais profundo
estar sobreposto
ao ser

eu engulo de vez
ou vomito sobre a mesa
posta do café da manhã

esse grito entalado
e volto, enfim:

viver!

Malu Sant'Anna