sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Alada

FOTOS WALTER MEDEIROS E JINGNA ZHANG

Se é para quebrar a cara
que seja em noite
de lua cheia
eu, Godiva, alma nua
galopando no teu céu...

Que me vale tanto zelo,
o medo de quedas antigas
dos falsos amores
em poças rasas?

Prefiro o risco.

Correr por teus caminhos...
entre pedras e espinhos.
No teu sexo, minhas asas.
Malu Sant'Anna

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Terrorista de mim

FOTO GRAÇA LOUREIRO

Eu, avião voando baixo
entre as muralhas
da civilização,
apaguei o risco
e o rabisco.

De mim,
esboço.
Malu Sant'Anna

Resposta à mulher que já foi homem

FOTO MXAVIER



do homem que já foi mulher

Tenho bons cílios,
boa pele e alguns
bons filhos...

Da mulher que um dia fui
ficou presa na garganta
uma lágrima.

Calcificada,
virou pomo de Adão.

Do pecado original,
sobrou-me a supremacia
carnal, a safadeza incontida,
verdadeiro instinto animal.

Por todo o corpo
nasceram pelos
e onde eu tive seios
está hoje o repouso
das minhas presas: fêmeas!

Os óvulos são girinos
que expulso em impulso
ejaculatório.

A fenda se fechou
e do grelo que eu tinha
ergueu-se o pau.

É para onde também
meu cérebro foi.

Não ousaria me comer,
seria contra minha macheza,
mas comeria a mulher
que antes da brotação,
um dia cheguei a ser.

Devoraria inteira,
e também suas amigas...

Seus lábios, mamilos,
vulvas e bundas.

Tudo em nome
do meu prazer.


Malu Sant'Anna

Nos meus sentidos

FOTO MARGARIDA ARAÚJO

Espalma o toque
com teu instinto
faminto em meus
meandros carnais.

Saliva tua
boca na minha
enquanto brindamos
à rega de um coquetel
de hormônios.

Teu cheiro, assim
do mamilo, à beira
quanta vontade me causa
de te servir para mim.

Desperta explosivos
impulsos primitivos

do gozo que
me nasce nos olhos,
do sonoro gemido,
do másculo aroma
e teu gosto...

o preferido
do meu paladar.

Malu Sant’Anna

Antropofagia poética

FOTO JOSÉ VIEIRA

Aos ególatras, não há limites.

O céu e a terra são apenas altares
para o culto a si mesmos.

E, àqueles que se opõem
ao estrelismo nauseabundo
das putanas revestidas
de poesia conspurcada,
uno-me em coro:

Fodam-se pérfidas!
Malu Sant'Anna

Zerando os contadores

FOTO PAULO FRANCO

Um segundo estrondoso
que me valha insistir...

Qual navalha
que à carne serve
verve ao despertar.

Sou magnólia tocada pelo vento,
esquife da minha agonia
à espera do jardineiro
para enfim poder sorrir.

Não, ainda não
estou pronta para desistir.

Ainda tenho escroto
mesmo tendo sido
castrada ao renascer,
ao me parir fêmea,
minha mãe.

Tenho nas mãos
atadas pela cinesia
intermitente da vida
a chave do tempo.

Meu tempo.

Descobrir...

Malu Sant’Anna

Guerreira de pano

FOTO PAULO FRANCO
Sob meus pés de tecido,
monstros desnudos, vencidos.
Malu Sant'Anna

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Tratamento de choque

FOTO GRAÇA LOUREIRO


O silêncio oco
na mortalha
justificava o fim.
Entretanto,
não estava pronta
para desistir.

Não ainda.
Sulquei o chão
com o peso
de minhas derrotas.
Desencapei
o fio alcançado.
Um toque apenas...

Tremor extremo.

Lançada à distância, caí estatelada...

Finalmente eu estava

Viva!

Malu Sant'Anna

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Fecundo

FOTO MIGUEL RITA
A lua estava divina, imensa,
ainda que só metade
refletisse o brilho do sol
em um amarelo perturbador.

Pendia como se fosse
escapar pelo rasgo do céu.

Eu viajava por fora,
pedalando ao seu encontro,
e por dentro,
onde o whisky paraguaio
e a cannabis me eximiam
de qualquer possível lucidez.

Assim, louca, livre e feliz
pela primeira vez eu vi
o céu grávido da lua.

Malu Sant'Anna

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Volta ao mundo em um beijo

FOTO SIG PEREIRA Teus lábios
hemisférios.
Para mim
são sempre
carne nova.
Malu Sant'Anna

Carnívoro

FOTO ANTONIO LOURO Cada pequena porção
deste corpo que te sirvo
em seda e rendas brancas
foi temperado
com teus aromas
e sabores preferidos.

Unicamente para
o teu paladar.

Sei que é de carne
tua fome voraz
e teu limite é
a fartura.

Por isso tanto.
Malu Sant'Anna

Borderline


O sorriso
me sangra
em rendas
negras e brancas...

É tudo ou nada,
de mãos atadas
nas costas
suadas...

E mais uma vez,
a um passo do fim,
perdida em mim

no resquício sombrio
da insana certeza...

posta à mesa,
eu serei o jantar!


Malu Sant'Anna

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Da mulher que já foi homem

FOTO FELIPE PEREIRA
(Egocentrismo explícito)

Castrada na fecundação,
menina, cheia de culpas,
escondia a masturbação
em leves toques
sob o lençol, temendo
um castigo severo
da Virgem que a tudo via,
pendurada na parede do quarto.
Do homem que já fui
herdei a safadeza incontida
que no pensamento
trazia a Virgem
para que lambesse
meus mamilos.
Do pau, ficou o grelo,
das bolas, ovários,
ainda bem que dos pelos,
poucos restaram
e nada de pés grandes
e pomo de Adão.
Os peitos são seios,
sempre ávidos por sucção.
E hoje, já mulher feita,
possuo-me de quatro,
bato forte em minhas ancas,
e soco no mais fundo que posso
até arrancar orgasmos
múltiplos de mim.
Se fosse homem ainda,
por certo me comeria também.
Malu Sant'Anna

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Exoração renitente

FOTO AMANDA COM
Ando pelas tampas... sempre na pressão.
Vontade louca de sair pelo mundo,
andar por veredas novas,
jamais vistas ou pisadas...
É como se eu sempre precisasse
de mais um trago, uma tragada,
um gole de café amargo,
mais um orgasmo...
E mar... sinto como se
sempre precisasse de mais.
E onde a falta me absorve
sobra sempre uma lacuna.
A vida clama por mim:
Viva!
Malu Sant'Anna



terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Lavagem cerebral

FOTO DDiARTE
Corpos jazem
combalidos na mítica
convalescência
abstinente.
Trocaram vícios
recorrentes
por um novo:
o não viver.
Terapias falhas
dão nisso.
São muito eficazes
no fabrico
de mortos-vivos.
Malu Sant'Anna

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Provocação

Foto DDiArte
Escapo em meandro,
escopo libertino
de alma penada.

Não te peço nada
tampouco me dou

apenas exponho
entre as coxas roliças
meu preferido
lugar de brincar.

Malu Sant'Anna

Caixa de Pandora

FOTO VIOLETA TEIXEIRA/PANDORA
Faz-me presa tua
e eu me sinto solta
aberta, inteira.
Desperta
na tua rigidez peniana
o meu furor clitórico.
Atemporais,
prazeres carnais...
E eu esqueço tudo
para experimentar o pleno.
O mundo inteiro cabe
entre minhas pernas.

E tudo o que importa agora
é pulsar enquanto jorras.
Malu Sant'Anna